sexta-feira, 3 de setembro de 2010

De serviço

Ontem a minha tia ligou-me para passar lá por casa porque a C. estava com febre, muito prostrada e que ela nunca tinha estado doente. A pediatra hoje estava nas urgências com os prematuros e portanto disse à minha tia para eu passar por lá para dar uma olhada e que se achasse que era urgente para só então a levar ao hospital.
Primeiro foi o meu momento de pânico. E se eu faço tudo mal? E se eu não vejo nada? E se fizer asneira?
Depois, respirei fundo e lá fui eu, a sentir-me cheia de responsabilidade.
Cheguei lá a casa e a C. estava vestida com o meu fato antigo de Bela (da Bela e o Monstro). Mas estava a arder em febre e assim que eu lhe disse que ela estava tão linda disse logo que queria ir tirar o vestido.
Vamos para o quartinho dela, sento-a na cama só com as cuequinhas e penso: o que é que é suposto eu fazer agora?
Perguntei-lhe se lhe doia alguma coisa, disse que não.
Depois lembrei-me que ela tinha estado com dores de barriga. Deitei-a, vi a barriga, palpei a barriga toda sem encontrar nada de especial. Fiz o toque à direita e à esquerda para procurar sinais de apendicite, mas nada (era previsível, ainda é muito pequenina). Nesta altura ela já sorria (devia estar a pensar nas figuras de parva que eu estava a fazer tão concentrada a carregar-lhe na barriga). Nada doía, não palpei nada. Tudo normal.
Tentei lembrar-me das minhas aulas de introdução à clínica. "Exame da cabeça aos pés".
Exame da cabeça e pescoço.
Observação: Tudo normal.
Palpação: Assim que lhe toquei no pescoço começou logo a afastar-me as mãos. Disse-lhe que não fazia mal, que tinha de me deixar mexer só mais um bocadinho. Começou a choramingar. Senti os gânglios submaxilares inchados.
Disse-lhe que tinha de me deixar ver a boca, com uma lanterna, como faz a senhora doutora. Ela deixou. Fui buscar uma colher para usar o cabo como espátula. Pedi-lhe para fazer "aaaaahhhhh" com a lingua toda para fora, mas ela não estava muito cooperativa por causa da febre. Fez um "aaahhh" pequenino, muito baixinho, e a língua mal saiu da boca. Mas foi o suficiente para ver uma amigdalite do lado esquerdo. O lado direito não consegui ver, mas pouco importa, porque o diagnóstico estava feito e o mais provável era que o lado direito estivesse igual.
De repente entram na minha cabeça todas as "nerdices" que aprendi sobre amigdalites este ano: S. pyogenes... penicilina... complicações não supurativas...
Apeteceu-me pegar num cotonete, fazer um esfregaço num meio de cultura e ver os S. pyogenes todos crescidos amanhã de manhã, só para sentir que lhes tinha ganho (esqueçam, momento nerd).
Voltei ao real e disse à minha tia para ligar à médica, porque me parecia uma amigdalite e era preciso antibiótico.
Assim se fez, o meu tio foi buscar a receita, foi à farmácia e a muito custo lá a convencemos a tomar o xarope.
E assim foi a minha noite de ontem.
E já estou contente porque ao fim de 2 anos já sinto que sirvo para alguma coisa:)

5 comentários:

Linu disse...

YEAHHHH!!!

Sara disse...

Linda :) Nunca vi ninguém ter tanto amor aquilo que estuda e faz, parabéns J. :D

Jo disse...

Saroka, felizmente há muita gente por aí que gosta do que faz e felizmente há muita gente realizada na minha área, está descansada que não sou só eu:)
Bjinhos
P.S.: E não é que a miúda já está melhor?:)

Incógnita disse...

Bem, parece-me que vou começar a requisitar os serviços de uma certa senhora cá para as feijocas (e para mim também, já que sou sempre uma sortuda com os médicos que me calham!)!

Jo disse...

Querida Incógnita, ajudo em tudo o que possa:)
Não posso é para já prometer grandes coisas, que o curso ainda vai só a 1/3:)
Bjinhos grandes