Os últimos dias têm sido desgastantes. Sempre a correr de um lado para o outro, com a sensação de estar permanentemente numa oral porque a cada minuto alguém me pergunta qual é o prognóstico, porque está a fazer o medicamento X ou Y, porque esteve entubado, porque é que já não está, o que é um coma profundo, o que é que isso significa, se vai voltar a acordar, porque é que não se faz um transplante, qual o resultado da TAC... como se eu soubesse... e eu não sei... não sei porque não conheço a pessoa em questão. Não sei porque, pela primeira vez na minha vida entrei numa Unidade de Cuidados Intensivos sem fazer a mínima ideia do que estava à espera de encontrar, ou de quem. Não sei porque há coisas que eu ainda não tenho de saber. E eu estudo, e procuro nos livros e falo com colegas e tento fazer o melhor que sei, mas o melhor que sei não é o suficiente porque mesmo que soubesse tudo não está nas minhas mãos. E eu sei disso mas devo ter um qualquer "complexo de salvadora", uma incapacidade de ficar quietinha no meu lugar a ver as coisas acontecerem lá fora.
E depois no final de tudo isto, mesmo para acabar em grande vem a pergunta que me fazem todos os dias uma média de 10 vezes: "Então e já escolheu a especialização?". E eu respiro fundo. Bem fundo. E digo com um sorriso que não.
2 comentários:
O futuro vai ser uma oral constante, com o mundo sempre a exigir mais do que tu achas que sabes e achas que podes dar. Mas esse teu 'complexo de salvadora', esse nosso 'complexo de salvadora', a vontade de saber mais, e o sentimento que não sei descrever de não saber responder a algo e querer por tudo sabê-lo, vai contribuir para um dia seres, sermos, óptimas médicas. Quanto à situação de agora, não tens de fazer mais do que o que tens feito. Porque eu posso não to ter dito,mas é imenso.
:) Gosto muito de ti:) (E sim, vamos ser médicas espectaculares)
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