Esta é a minha última semana de aulas. Não deste ano. Provavelmente é mesmo a última semana de aulas da minha vida toda. Ainda tenho mais um ano de curso, mas será um ano só de estágio onde conto que o meu tempo passado no "hospital-casa" seja o mínimo indispensável.
É a última semana em que vou estar com todos os meus colegas juntos em aulas. Não que nós vamos às aulas. Na maioria das vezes não vamos. Mas sabemos sempre que é provável que nos cruzemos num corredor qualquer do hospital, ou numa biblioteca, ou na estátua em frente ao hospital a apanhar sol.
Estou a uma semana e meia daquela que será a minha última época de exames. A última época de exames da minha vida. A última vez que vou ter de fazer exames inúteis como exame de ética ou de medicina legal. A partir daqui fica só a sobrar o exame de acesso à especialidade e os exames da especialidade. Todos eles bem mais úteis.
Vou perder o contacto com muita gente. Sei que sim. Claro que existe o Facebook, telemóvel, email, e nada inviabiliza que contactemos nos aniversários, ou talvez no Natal. Mas esta semana quando me cruzo com estas pessoas na faculdade penso: "Estas conversas vão acabar em tão pouco tempo...". Não será assim com toda a gente, claro. Quem é amigo fica. Estou a falar das pessoas com quem tenho conversas circunstânciais que até sabem bem, que até são agradáveis, mas que não marcaram o meu curso.
Sinto um certo vazio quando oiço coisas como "Epá, estou farta do senhor da loja de fotocópias, nunca mais lá volto a imprimir nada" e eu me apercebo de que não vai haver mais nada para imprimir. Faz-me confusão quando penso que tenho rifas para vender para a Noite da Medicina porque a próxima vai ser organizada por nós. O que quer dizer que será a nossa última Noite da Medicina. A sexta NM da minha vida.
Sexta-feira vou ter um almoço de despedida da faculdade. Um almoço de amigos, só para o convívio e para a palhaçada. Tenho a certeza de que vai ser divertido, de que vai deixar memórias. Mas também sei que quando entrar no restaurante vou sentir aquele aperto no peito de quem sente que aquela é a última vez.
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