sábado, 11 de dezembro de 2010

Super-poderes

Dizia-me o HM que no outro dia na consulta de psiquiatria lhe tinha aparecido um doente que já há bastante tempo não dava sinais de vida porque tinha o problema controlado.
Acontece que o problema era que o rapaz via monstros verdes que andavam atrás dele.
Sorte a dele, apesar dos monstros ele tinha super-poderes e podia dar cabo dos monstros quando eles apareciam!
Acontece que com a medicação já há bastante tempo que os montros não vinham. Infelizmente para ele, com a medicação os poderes também se foram!
Portanto, e porque é muito melhor ter super-poderes e ver montros do que não ter super-poderes mesmo que os montros verdes não andem atrás de nós a tentar arrancar-nos a cabeça, o rapaz parou a medicação! (se fosse eu se calhar também parava, às tantas ele tinha super-poderes daqueles que toda a gente quer ter: invisibilidade, voar, visão raio-x, fulminar monstros com os olhos...).
Próxima fase: diminuir a medicação o suficiente para deixar de ver monstros mas manter os super-poderes! Espectáculo!!!

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Mas porque é que tenho um blog?

Fizeram esta pergunta à IL aqui há uns dias e ela pensou, pensou e... acabou com o blog.
Eu pensei, pensei e... não vou acabar com o meu.
Comecei este blog há mais de dois anos, quando na altura me estava a candidatar à universidade pela segunda vez. Tinha-me candidatado a Espanha e fiquei colocada na Universidade de Navarra, só uma das melhores universidades de medicina na Europa.
Daí veio o nome do blog. "Viagens por sentimentos" porque ia iniciar uma viagem e porque calculei que fosse precisar de um sítio para depositar todos os sentimentos que se seguiriam. Além disso o blog seria sempre uma maneira de pôr os meus amigos (a Butta, a Nokas, a Incógnita...) a par daquilo que por lá se passava. Uma espécie de diário público de viagem.
Entretanto entrei cá e por motivos económicos (convenhamos que é bem mais barato andar numa pública relativamente perto de casa do que numa privada quase em França) e também pessoais (que sim, sou menina dos papás), acabei por cá ficar. Tem dias em que penso que devia ter ido, que se calhar era melhor em termos de carreira e de experiência de vida, mas não me arrependo da decisão que tomei.
Cá ganhei muitas coisas, fiz novos amigos, tenho aprendido muito e tenho aproveitado ao máximo. Tive um grande amor, tive milhões de histórias, tive momentos de chorar a rir e de rir a chorar. Regra geral, um balanço positivo. Se tivesse ido também teria tido outras histórias, mas não seriam as mesmas e eu gosto das que tive.
No meio disto tudo a viagem acabou por ser cá dentro, mas não deixou de ser intensa e, tal como previa, o tempo para manter os amigos a par das novidades foi e é efectivamente escasso.
Por isso mantenho o blog.
E arranjei novos "amigos" aqui. Pessoas que ficam contentes quando eu estou contente e venho aqui escrever parvoices e pessoas que me vêm consolar quando estou mais em baixo e, acreditem, essas palavrinhas muitas vezes ajudam.
Por isso o blog continua. Porque esta viagem ainda não acabou, porque ainda há gente que vem cá para ler as minhas parvoices, porque simplesmente gosto de ter onde escrever sem ser no bloco verde que guardo na estante. Porque gosto de ter feed-back de pessoas que conheço mas também das que não conheço, porque essas são imparciais.
Por isso promete-se dar continuidade ao blog durante mais uns bons tempos.
Porque me apetece.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Congresso

Vou então tirar uns minutinhos para vos falar do maravilhoso congresso a que fui esta semana.
Sim, é verdade, já estamos super crescidos e já somos convidados para ir a congressos, olha que finos!
Não, estejam descansados, não vos vou chatear com as partes técnicas da coisa. O congresso foi de psiquiatria e confesso que adorei. Aprendi algumas coisas, percebi todas as palestras (excepto aquelas que foram dadas em idioma próprio como mais à frente falarei), e acima de tudo diverti-me imenso.
  • Percebi que nós fazemos posters como ninguém. Não acredito que haja alguém no meu ano que faça posters piores do que alguns que lá estavam. Desde fundo cinzento com letra preta até posters que simplesmente eram um artigo impresso numa folha maior houve de tudo.
  • Comi alarvemente. Não nos quiseram dar o almoço, pelos visto o convite da faculdade não o incluia. Vingámo-nos nos coffee breaks. Não sei quantos mini croquetes, queques, folhados de salsicha, sumos de laranja naturais, gelados cornetto soft, pasteis de nata e sandesinhas comi nestes 3 dias. Era tudo grátis e à descrição como se quer, uma pessoa tem de aproveitar.
  • Percebi que não saber falar inglês não é impeditivo para quem quer que seja de dar uma palestra em inglês. Fala-se em "ligations between the arteries", diz-se "I does" ou junta-se um toque de português e faz-se "mas on the other side". Ninguém percebe nada mas o pessoal sempre tem um momento lúdico.
  • Ganhei canetas para o resto da vida. Trouxe mais de 30 canetas para casa no primeiro dia. Claro que todas elas têm o nome de um medicamento escrito, mas ainda assim são canetas e não sou esquisita com essas coisas (sempre ouvi dizer que a cavalo dado não se olha o dente). Além disso ganhei blocos, pastilhas elásticas, bolas de natal personalizadas (!!!), daquelas bolinhas anti-stress, caixinhas para guardar clips, pens de 2 GB, coisas para limpar o teclado do computador, post-its, agendas, malas para o computador, lapiseiras... enfim, uma pequena fortuna em coisas. Eram tantas que no primeiro dia tive de ir ao carro 3 vezes pôr sacos que já dava mau aspecto andar a passear-me pelo recinto do congresso com aquilo tudo atrás. E quando eu já não queria mais nada vinham ter comigo e perguntavam-me se não me podiam oferecer mais canetas/blocos/post-its etc... e eu lá tinha de aceitar. Tenho a ligeira impressão de que se for às compras este fim-de-semana até me vou esquecer de pagar tal foi o hábito que ganhei a simplesmente meter as coisas dentro do saco.
  • Toda a gente me diz meio na brincadeira: "VENDIDA!". Nada disso, eu ainda nem posso passar receitas a ninguém! E os senhores fazem tanta questão em oferecer que eu não posso recusar coitados, ainda ficavam ofendidos sem necessidade nenhuma.
  • A partir de agora estarei em todos os congressos/simpósios/conferências que me paguem (sim, porque se não me tivessem oferecido queriam que pagasse mais de 100 euros pelos 3 dias... como se já não chegassem as propinas), por isso indústria farmacêutica, faculdade, estou à vossa disposição. Ouvi dizer que lá para Março/Abril há um congresso de cardiologia. Fico à espera de novidades. Eu acho que até tem muito a ver com a matéria que estamos a dar este semestre, iamos ter muito melhores notas e ser muito melhores médicos. Façam lá o esforço sim?

domingo, 5 de dezembro de 2010

Dos presentes

Já vou quase a meio das minhas compras de Natal.
Impressionante como há coisas que nunca mudam:
  • O meu pai e o meu avô são sempre as pessoas para as quais compro um presente à última da hora, nunca sei o que lhes hei-de dar.
  • O T., o K. e a C. são sempre os primeiros e só tenho pena de não ter orçamento ilimitado para lhes comprar presentes porque tenho sempre milhões de ideias para eles.
  • Mesmo sem ter jeito nenhum para trabalhos manuais de qualquer espécie acabo sempre por me aventurar numa coisita ou outra e normalmente não corre mal (aí está uma coisa que acho que este ano pode mudar).
  • Perco sempre horas a embrulhar presentes. Gosto de ser eu a fazer os embrulhos. Não que faça melhor do que as senhoras das lojas, longe disso, simplesmente faz parte do meu espírito natalício embrulhar presentes a ouvir músicas de Natal.
  • Compro sempre uns dois ou três presentes a mais daqueles neutros de que toda a gente gosta mas ninguém adora (chocolates ou doces em geral) só para aquelas pessoas que na altura de Natal me vão aparecer à frente e para as quais me esqueci de comprar presentes.
  • Acabo sempre por entrar naquele esquema do se-dou-a-ele-tenho-de-dar-a-ela-e-se-dou-a-ela-tenho-de-dar-à-outra-e-se-dou-à-outra-tenho-de-dar-ao-não-sei-quantos and so on... detesto mas é inevitável.

sábado, 4 de dezembro de 2010

So true


Da semana

O meu carro vai ser promovido a lugar comum. Agora já só é preciso dizermos umas às outras: "queres ir ao carro?" e já sabemos o grau de gravidade do problema.
Estou mesmo a ponderar fazer cópias das chaves do carro e distribuí-las pelo pessoal da faculdade. É que para todos aqueles que ainda tinham alguma dúvida, o prof de saúde mental fez o favor de esclarecer na última aula que a nossa vida como futuros médicos será "uma p*t* de uma vida" (espero que ele não diga isso aos pacientes dele que fazem ameaças de suicídio).
Mas não era disso que vinha falar-vos hoje, até porque neste momento a minha vida não se assemelha sequer um pouco à descrição do prof de saúde mental, estou muito bem disposta, é quase NATAL:D
Vinha falar-vos das nossas aulas de introdução à clínica.
Cada vez mais admiro os médicos que efectivamente sabem utilizar um estetoscópio como deve de ser e sabem ouvir aquilo que efectivamente se passa "lá dentro".
É que se a auscultação cardíaca foi catastrófica a pulmonar foi pouco melhor.
Tudo começa quando na descrição de um dos sons nos dizem que o som tal se assemelha a um "polichinelo". Mas o que é que eles acham? Não só não percebemos nada do som como ainda não sabemos o que é um polichinelo. Sentimo-nos duplamente burros! (mas fui logo ver o que era quando cheguei a casa)
Depois vêm as outras descrições:
"Este é uma porta a ranger"
"Este é o fogo de artifício"
"Este é uma pomba afónica"
"Este é quando se bebe o leite pela palhinha"
"Este é a trovoada ao longe"
"Este é uma pessoa a sentar-se e a levantar-se de um sofá"
E isto até parece giro-e-fácil-e-é-só-dar-lhe-o-nome-certo-depois mas desenganem-se!
Assim que se põem um som nas colunas para todos ouvirmos começa logo a cena de quase pancadaria:
"É a porta", "Não é nada, é a trovoada", "Qual trovoada qual quê, é mas é a palhinha" até chegarmos à conclusão de que não é nada e é só uma respiração normal.
É um drama é verdade, neste momento a respiração normal já não me parece normal de todo e a minha decididamente também já foi mais normal. Depois de 2 horas a ouvir diferentes respirações uma pessoa fica meia avariada.
Portanto e só para concluir isto: Um dia, muito em breve (de preferência até ao OSCE de introdução à clínica no fim de Janeiro) eu vou estar pró a distinguir os sons. Até lá vou-me divertindo com as nossas aulas.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Caros senhores da propaganda médica:

Já tenho bloquinhos que cheguem, assim como canetas azuis/pretas.
Os post-its também já são dispensáveis porque a minha técnica de estudo foi re-adaptada e a utilização de post-its ficou bastante reduzida. Os que tenho ainda devem chegar para este semestre.
A época de exames aproxima-se, estamos a menos de dois meses, e acho que podiam começar era a dar daqueles marcadores fantásticos para sublinhar.
Podiam dar em várias cores, eu ficava contente, mas como os tempos estão complicados, e eu percebo isso perfeitamente, podiam apostar nos marcadores amarelos que são os que gasto mais, sim? É que já estou a acabar o segundo, uma pessoa farta-se de estudar, a despesa aumenta e este mês há que poupar!