Inevitavelmente mais de metade de nós irão acabar por fazer medicina geral e familiar (MGF) como especialidade. Desses, tenho a certeza de que bem mais de metade irão para MGF não por ser a sua primeira opção, mas sim porque são as vagas que sobram.
Este semestre estou a ter a cadeira de MGF e as minhas expectativas antes de começar eram grandes. Achei que iam tentar fazer os possíveis por nos entusiasmar com a cadeira. Que íamos aprender coisas efectivamente úteis pelo menos para metade de nós. Que, como nos disseram na primeira aula "muitos de nós têm uma ideia errada da MGF" e que iam tentar corrigi-lá.
Nestas semanas de aulas constatei que é verdade, sim. Tinha uma ideia errada. Os estágios que tinha feito até agora em medicina geral e familiar foram dezenas de vezes melhores do que a ideia que nos vendem de MGF por aqui. Eram estágios de médicos a ver doentes. Estágios de médicos que fazem toques rectais se acharem que é preciso, que lavam as mãos entre doentes porque sabem que os bichos não existem só nos hospitais, de médicos que acham que uma tensão arterial sistólica de 17 é de valorizar e que nem tudo se resolve com conversinhas sobre os problemas do agregado familiar.
Claro que é importante perceber o que preocupa o doente, ver a pessoa como um todo, e tudo isso. Mas isso já sabemos. E quem não teve o bom senso suficiente para perceber isso sozinho até agora, por mais aulas que tenha sobre a importância que isso tem também não vai chegar lá.
Se um dia for para MGF, esta não será provavelmente a minha primeira opção. Acho que conseguia fazer um bom trabalho, acho que até conseguia ser feliz em MGF, mas falta-me o hospital, as urgências, e para já acho que isso é uma das coisas de que preciso. Se um dia for para MGF não será certamente graças a estas aulas. E se um dia for uma boa médica de MGF também não é graças a estas aulas que vou ser melhor.
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