quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Orgulho

O meu primo mais velho, o A., nunca foi rapaz de muitos estudos. Lá fez o secundário a muito custo, ainda andou a passear por um curso de fisioterapia que nunca concluiu e ficou-se por aí.
Como o pai dele tem uma lojinha em Lisboa era lá que ele passava os dias dele, sem ambições de nada mais.
Até ao dia em que entrou uma rapariga chinesa pela loja convencida de que era por ali que se entrava para a pensão de cima e exigiu que ele lhe levasse as malas para cima. Ele mandou-a passear. E o resto é história. Semanas depois ela voltou para Paris, onde estava a estudar e o A. fez as malas e foi para Paris à aventura.
Tudo correu bem, até que a J. acabou o curso que estava a fazer em Paris e teve de regressar à China. Ela é filha única e por questões culturais nao pode abandonar os pais. Então o A. juntou dinheiro, conseguiu ir trabalhar para uma loja da Prada em Paris, e foi visitá-la à China.
Quando lá chegou tinha os pais da rapariga com páginas e páginas escritas com caracteres chineses com perguntas para lhe fazerem. Ele diz que foram horas de "entrevista" em que lhe perguntaram tudo, desde quanto ganhava (claro) até qual era o clube de futebol dele.
No final o pai disse-lhe assim a seco que a J. tinha muitos outros pretendentes e que todos eles ganhavam mais do que ele. E ele deu a resposta óbvia: que nenhum deles a conheceria tão bem e que o dinheiro não é tudo.
O A. voltou para Paris, estudou mais mandarim e agora está a preparar-se para fazer as malas outra vez e ir tentar a sorte dele na China. E se ele arranjar um bom emprego lá (porque casando com a J.  ele tem de a sustentar não só a ela mas também aos pais dela) casa já no próximo ano.
E eu sinto um orgulho enorme, não so por ele estar a conseguir endireitar a vida dele e ter objectivos mas também por ver que ele acredita mesmo no amor.
Ele tem 31 anos e é a primeira vez na minha vida que o acho efectivamente crescido.

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